Tempos em que respondia aos murros e pontapés,
Olhava nos olhos da morte frente a frente,
Berrava aos prantos tantos nomes desconhecidos
E desconhecido também era o arrependimento.
Tempos em que me cobria do manto perverso da noite
E apagava luas com uma só das mãos.
Tragava o sal do mar e cuspia solidão.
Tempos que dobrava a corda
Em volta deste coração
E enforcava o medo das sombras
Nos galhos da escuridão.
Tempos em que sabia a dor
E a mesma dor desconhecia,
Face a verdadeira e sombria
Dor do imenso vazio.
Tempos em que o frio
Varria os assoalhos
E os cobria com o tédio
E o veludo da hipocrisia.
Tempos em que sorvia o ódio
E o servia em taças coloridas
Para as vidas sofridas
Daquela ausente multidão.
Tempos em que a filosofia
Soprava após a rebeldia
E o egoísmo do meu coração.
Tempos em que as lágrimas vertiam
Das janelas fechadas daquele porão.
As sombras que assombravam o corpo
Que jamais cedia à própria razão.
Tempos em que eu esquecia
O que deveria ser lembrado,
O vaso quebrado
Onde a flor jazia.
Tempos em que eu amolava
O aço da minha própria língua
Nas pedras castigadas
Por pisadas frias.
Onde as estrelas cadentes
Sempre caiam nas terras
Do meu jardim.
Tempos em que águas e sonhos
Não se misturavam,
Não havia poesia.
Tempos em que a verdade era só minha
E só a mim cabia todas as respostas
Para as dúvidas que eu não tinha,
Apenas a certeza
De saber que eu nada sabia.
Mário Sérgio de Souza Andrade – 28/07/2020
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